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“É uma ideia boba pensar que criamos algum tipo de inteligência artificial...

... Criamos algo que é eficiente, mesmo tendo zero inteligência”

Para Luciano Floridi, o filósofo vivo mais citado no mundo e um dos principais pensadores da ética em IA, a verdadeira revolução que estamos presenciando é a capacidade das máquinas para resolver problemas ou lidar com qualquer tarefa, mesmo sem contar com nenhuma inteligência


ÉPOCA NEGÓCIOS - TECNOLOGIA


Por Dora Kaufman*

05/06/2023



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Luciano Floridi, o filósofo vivo mais citado no mundo, e um dos principais pensadores da ética em IA — Foto: Divulgação



O ChatGPT despertou o mundo para a inteligência artificial, consagrando-se como o "hype da vez”. No meio de uma avalanche de manifestações, com muitas informações desencontradas, é um privilégio poder ouvir com exclusividade o filósofo italiano Luciano Floridi, professor na Universidade de Oxford e na Universidade de Bolonha, que a partir de setembro será diretor do Centro de Ética Digital da Universidade Yale, nos Estados Unidos.


Entre inúmeros prêmios, em 2020 foi agraciado como “Cavaleiro da Grã-Cruz da Ordem do Mérito”, a mais prestigiosa honraria da Itália; no mesmo ano, foi o filósofo vivo mais citado no mundo. Um dos principais pensadores da ética em inteligência artificial, autor ou coautor de uma infinidade de artigos, está engajado em identificar e equacionar os desafios da IA, tendo atuado como consultor da Comissão Europeia, suas reflexões são referências mundo afora.

Confira a seguir a íntegra da entrevista.


ÉPOCA NEGÓCIOS Como não podia deixar de ser, dada a repercussão, a primeira pergunta é sobre a carta aberta do Future of Life Institute, lançada em 28 de março, propondo uma moratória de 6 meses aos laboratórios de desenvolvimento de IA, com o endosso de alguns membros importantes da comunidade científica. Por que o senhor não assinou essa carta?

LUCIANO FLORIDI Eu não assinei essa carta por quatro razões. Primeiramente, é inútil, porque chega atrasada. A pasta de dente já está fora do tubo, não é possível colocar de volta para dentro. Então, parece mais uma ação de relações públicas. A segunda razão é que seus fundamentos parecem mais com o que eu considero ficção científica: ela usa como base uma descrição genérica do que seja a inteligência artificial dominando o mundo, cenário sobre o qual não precisamos nos preocupar. Existem sérios problemas, mas na carta eles são apresentados de forma retórica, sem fundamentos científicos. A terceira razão é que a carta é pouco informativa sobre as legislações que estão vindo. O texto não diz uma única palavra sobre elas, desconsidera o intenso trabalho nessa direção mundo afora. A quarta razão é que a carta é hipócrita, promovida por pessoas responsáveis por gerar o hype. Ela distrai dos problemas reais. A Carta é inútil, desfocada, não informativa, e hipócrita. Eu não posso assiná-la.


NEGÓCIOS O outro evento que viralizou no final de março foi a decisão da autoridade de proteção de dados da Itália (Garante per la Protezione dei Dati Personali, GPDP) de bloquear o ChatGPT com base no argumento de que os dados de cidadãos italianos usados para treinar o modelo foram coletados sem consentimento, e sem verificação de idade. Como o senhor vê essa decisão, que tende a ser seguida por outros países da Comunidade Europeia?


FLORIDI Acho que foi uma decisão radical. Claro, trata-se de uma decisão legal, legítima e justificada com base nas leis europeias. No entanto, havia espaço para interpretação e manobra, e esse espaço não foi utilizado. A Garante decidiu apelar para prerrogativas extremas, em uma decisão, como se diz em inglês, “draconiana”. Não estou convencido seja a melhor alternativa na execução de suas funções. Os instrumentos legais não são muito adequados e a medida foi implantada de maneira extrema. Proibir não seria minha recomendação. Espero que essa decisão não seja seguida por outros países europeus. O que nós precisamos é de uma boa regulamentação de IA e, até que tenhamos esta regulamentação, que predomine alguma compreensão inteligente e poderosa, tolerante e completa desta tecnologia, com mais diálogo, e não uma “guerra".


NEGÓCIOS Em artigo de 2021 (The End of an Era: from Self-Regulation to Hard Law for the Digital Industry), o senhor declarou o fim da ilusão de autorregulação pelas empresas de tecnologia, defendendo a regulamentação da IA pelos governos, como a proposta da Comissão Europeia (AI Act). Depois de quase dois anos e mais de 3.000 emendas, a Comissão Europeia está perto de ter uma proposta final consistente? Como lidar com a lacuna de conhecimento dos reguladores e a crescente complexidade e aceleração das inovações em IA?


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Leia a entrevsita completa em: https://shorturl.at/oxDQ1




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